Quinta-feira, 6 de Março de 2008
Está na altura de fazer um clone deste blog: http://imperfeicoesdigitais.blogspot.com.
Não vai ficar tão bonito como este, mas é mais prático.
Vejo-vos por lá.
Quarta-feira, 5 de Março de 2008
Para mim és uma foto digital. Pixel sim, pixel não, pixel sim, pixel não, pixel sim, pixel não.
Digito dois pontos e fecho parêntesis para esboçar um sorriso.
Não vais saber se é mais ou menos amarelo.
O que eu preciso é de um toque humano. Uma voz, uma gargalhada real.
É o que eu preciso.
Terça-feira, 4 de Março de 2008
Comecei a semana passada a ler um livro que comprei no aeroporto de S. Francisco o ano passado. Até agora estou a gostar do livro, escrito na voz de uma miúda de 9 anos filha de pais separados em 1969. O pai trabalha em Berkeley em computadores e a mãe de origem hispânica era dançarina, mas agora acho que não trabalha. É giro o livro, e o papel é mais leve o que o torna mais portátil.
Este ano não vou ao MRS Spring Meeting. Não há dinheiro para me pagar a viagem, foi o que me disseram. De qualquer forma, também não tinha resultados novos para apresentar. Estes últimos tempos têm sido difíceis.
Os primeiros bons resultados que tive foram quase triviais. Foi só experimentar e as coisas resultaram quase à primeira como era esperado. Agora propus-me a fazer coisas mais complicadas... e há dois meses que ando de volta disto, porque não resulta como esperado. Enfim, é a vida. Mas precisava de um bom resultado para me animar. Para ir a outra conferência que vai haver em Setembro.
Estou a ficar farta destas limitações, desta falta de recursos. Há tanto dinheiro por aí a ser mal gasto. Se conseguisse acabar o projecto de doutoramento antes do tempo ia-me embora de bom grado.
Quinta-feira, 21 de Fevereiro de 2008
Crescer nunca foi para mim um processo contínuo. Lembro-me de ser uma miúda de 15 anos e havia dias em que acontecia alguma coisa especial e depois eu percebi que nesse dia eu tinha crescido bastante. Como se tivesse dado um salto e num dia crescesse um ano. Mais ou menos como os níveis de energia das orbitais moleculares de uma molécula complexa: quase parecem um contínuo de energia mas no fundo são várias orbitais com energias muito próximas, mas diferentes e entre as quais o electrão tem de "saltar".
Nas duas últimas semanas dei um destes saltos e cresci um ano em poucos dias. Vejo o mundo de outra forma, e o que me parecia azul percebo agora que afinal era verde azulado. É bom crescer, pena que às vezes custe tanto.
Terça-feira, 11 de Setembro de 2007
Já lá vão quase dois anos de doutoramento. Está na altura de fazer balanço e escolher o rumo para os dois anos que faltam. Tem corrido bem? Sim e não. Isto da investigação cientifica é duro. E não só pelo trabalho em si.
Investigar é procurar respostas ao que não sabemos. E muitas vezes as respostas não são as que esperamos à partida. Não são o que a teoria demonstra. Isso atraí-me na ciência: tenho de me cingir à verdade dos factos, e é a teoria que tem de se adaptar à realidade. Isto traduz-se em semanas de trabalho perdidas, até se entender que não segui o caminho certo. Significa que depois de passar um dia inteiro no laboratório, chego ao microscópio e os resultados são ao contrário dos da semana passada. Lidar com esta imprevisibilidade não é fácil mas aprende-se.
Estudar, mesmo o que para mim enquanto química/biotecnologa é mais complicado como física, exige muito tempo, ler e reler os mesmos livros. Mas física também se aprende e no fim até me sinto realizada por perceber o funcionamento de um fotodíodo ou de algo mais complicado como uma spin-valve .
O que tem sido, e continua a ser mais difícil é pensar no futuro. E depois quando o doutoramento acabar? Sentir que vou ser "expulsa" do país. Sei que se for lá para fora me hão-de dar oportunidades de construir uma carreira. Mas ainda me custa encarar o facto de sair para não mais voltar. E mesmo assim, a única coisa que me consegue dar motivação para continuar é o meu "American Dream", ir para a Califórnia, onde as coisas acontecem, onde se inventaram os computadores e a Internet como a conhecemos. Onde há dinheiro para trabalhar.
Quarta-feira, 5 de Setembro de 2007
"Ó Clarinha olha as pombas
Mas não tenhas medo, não
Porque as pombas ó Clarinha vão poisar na tua mão.
Tu gostas dos bichinhos todos
Da tartaruga ao canguru
Só não sei quem é mais lindo,
Se são as pombas se és tu?"
(Letra de Ana Faria e os Queijinhos Frescos para a Ode da Alegria de Beethoven)
Segunda-feira, 3 de Setembro de 2007
"O Sonho dos meus amigos é ter um GTI
Não importa se inglês ou japonês
(...)
Para que é que eu quero um GTI?
Se te tenho a ti
A sonhar comigo desde que te conheci"
GTI, Clã
Começo este post a cantar de cor uma velha música dos Clã, só para vos falar do meu sonho. Há quem tenho o último modelo de telemóvel, aquele que até faz o pino. Há quem vá ao cinema todas as semanas e esteja sempre a par dos filmes mais interessantes. Eu (e a minha cara metade) tinhámos o sonho de conhecer Portugal de lés-a-lés.
E agora, depois de já termos visitado os 18 distritos de Portugal Continental, e de termos ido aos Açores e à Madeira, sinto que ainda há muito a descobrir. A vantagem é que é mais fácil escolher onde nos apetece ir.
Eu gostava de visitar de novo o Mosteiro de Tibães, no Minho, e ir ao Parque Natural do Douro Internacional, em Trás-dos-Montes. Apetecia-me ir a Viseu comer um Arroz de Carqueja, mas também tenho saudades do Bife de Atum de Cancela-a-Velha, no Algarve. Gostava de fazer outro percurso pedestre na Serra D'Aire e Candeeiros agora que o tempo começa a refrescar. Também Monsaraz está na minha lista, não imagino como essa zona estará diferente depois da Barragem do Alqueva. Mas talvez, para começar, ficasse contente em ir de novo a Porto Covo e à Zambujeira do Mar.
A nossa primeira viagem foi a Porto Covo, Vila Nova de Mil Fontes e à deliciosa praia de Odeceixe. Lembro-me bem de andar por lá à procura de uma ilha que pudesse ter tido um pessegueiro, como o da canção.
"Havia um pessegueiro na ilha
Plantado por um Vizir de Odemira
Que dizem por amor se matou novo
Ali, no lugar de Porto Covo."
Porto Covo, Rui Veloso
Sexta-feira, 31 de Agosto de 2007
Tinha 15 anos quando fiz a minha primeira grande viagem. Fui ao Jamboree , um encontro mundial de escuteiros, que dessa vez se realizou na Holanda. O ambiente lá era alegre e descontraído , havia sempre muito que fazer. Todos os dias nos eram distribuídas senhas para as actividades do dia: desde desportivas como mergulho, raids, culturais como visitas às cidades próximas e ateliers de expressão dramática; até visitas a templos improvisados de todas as religiões presentes. Vivia-se o ano da igualdade, do todos diferentes, todos iguais, e era esse o tema do Jamboree . Lembro-me ainda de outra actividade, que era obrigatóriapara quem queria ficar com o distintivo do Jamboree e que fui fazer acompanhada do meu amigo Joel. Era uma espécie de circuito que os militares têm de fazer, incluia subir paredes de corda e para terminar tinhamos de atravessar a nado um rio de lama. Muito giro.
Fiz alguns amigos nessa viagem. O mexicano Paco de Guadalajara, o romeno Adrian Andresco, um armeno do qual não me recordo o nome e a Daniella Horeau das Seychelles.
Conheci a Daniella num dia em que a actividade que me calhou foi contruir uma casa de madeira no meio de um lago. Eu, na altura, não sabia o que eram as Seychelles. Mantivemos o contacto durante todos estes anos. Antes da "invenção" da Internet trocámos cartas, foto e postais. Tenho ainda uns búzios pequeninos que ela me enviou uma vez. Fomos crescendo juntas e continuamos amigas.
Foi nesta viagem que eu aprendi o prazer de viajar e de descobrir culturas desconhecidas. Abriu-me os horizontes, muito mais do que no sentido geográfico. Em 1995 era comum encontrar lá casais gays. Em Lisboa isso ainda hoje isso é impensável. Em 1995, num acampamento de dimensões gigantescas, completamente ao ar livre, havia zonas específicas para fumar, e era proibido faze-lo fora dessas zonas. E nenhum dos fumadores presentes se indignou por isso. Hoje, continuo a ter de suportar o fumo dos outros, e estou para ver se alguma vez a nova lei vai ser aplicada nos restaurantes. Dois exemplos de que ainda há muito a fazer no nosso pais em termos culturais.
Também gostei muito dessa sã convivência entre religiões que lá se viveu. Aprendi o essencial de cada uma das cinco religiões representadas. Tivemos uma cerimónia conjunta, com todas as religiões presentes. Milhares de pessoas, que se encontraram para celebrar, não digo deus, mas sim a paz.
Mas viajar também é voltar a casa. Sorrir com as boas recordações que se vão guardando. Ganhar força para o dia-a-dia do trabalho, para a procura de sermos sempre melhores. Para planear a viagem seguinte.
Quinta-feira, 19 de Julho de 2007
Era uma vez um Salmão, um salmão bonito, grande, gordo e de um prateado azul brilhante. Um dia, o Salmão acordou triste e na sua subida anual do rio e começou a pensar. "Mas porque é que eu aqui vou? Para quê este esforço tão grande de subir este rio tão comprido e com uma corrente tão forte?" E nessa altura, o Salmão deixou-se arrastar pela corrente, e foi descendo, descendo, até que foi parar a uma zona larga e calma do rio.
Quando aí chegou, um Salmão encontrou um Peixinho, um peixe pequeno e sem graça, mas como tinha um ar simpático, o Salmão meteu conversa: "Então de onde és? O que fazes...?". O Peixinho contou-lhe que era dali mesmo e que costumava passar o dia por ali a comer, com os outro peixes iguais a ele. Deixou o Salmão ficar com eles o tempo que quisesse, embora tivesse achado estranho esse pedido, de um peixe tão forte como Salmão. Mas sim, o rio era largo naquela zona e havia comida de sobra para todos.
No dia seguinte, o Salmão começou a lembrar-se das suas aventuras no mar, e da sua subida do rio do ano anterior. Então descobriu alguma coisa dentro dele, continuava sem saber o objectivo de todo aquele esforço da subida do rio. Mas sabia que não podia ficar ali no rio largo a vida inteira, nem podia deixar-se assim arrastar pela corrente. Tinha de subir o rio. Tinha de ir, contra corrente e chegar à nascente. Como os outros salmões. E essa ideia, de subir o rio, mesmo que sem razão aparente, dava-lhe força. A tristeza com que tinha acordado desapareceu, e estava de novo alegre e cheio de vida como antes.
E lá foi ele, a tentar escapar aos ursos, e a fugir das rochas mais afiadas.
Sexta-feira, 15 de Junho de 2007
Quando estive nos States em Abril um aluno transtornado encetou um massacre na Universidade da Virginia em que matou mais de 20 pessoas. Para mim este acontecimento foi um pouco perturbante, ainda para mais, porque tive, nessa altura, a oportunidade de visitar duas Universidades americanas, e perceber um pouco do tipo de ambiente que se vive por lá.
Ontem um aluno transtornado da Universidade do Minho provocou arranhões e ferimentos menores a um Professor.
Quais as diferenças entre estes dois casos? A principal: o acesso às armas... No caso português foi alegadamente usada uma faca de cozinha, nos EUA armas de fogo automáticas... Uma faca atinge uma pessoa que esteja a menos de um metro de distância, uma metralhadora pode, no mesmo período de tempo, atingir várias pessoas que estejam mesmo a 20 metros de distância.
Em Abril, nos EUA, falámos muito deste assunto e a minha Professora, que é americana, dizia que este tipo de desequilíbrios em estudantes acontecem em todo lado, mas só nos EUA é que ganham estas proporções devido ao fácil acesso às armas. Infelizmente o caso de ontem só vem confirmar este facto.
Na realidade, e ao contrário do que dizem os defensores do uso generalizado de armas, são mesmo as armas que matam as pessoas.
Terça-feira, 12 de Junho de 2007
Domingo, 10 de Junho de 2007
Andar à roda, girando sobre mim própria até ficar tonta.
Como quando era criança.
Depois fico mesmo tonta, quase a perder o equilíbrio ,
E rio-me, e fico triste e contente outra vez.
Como uma espiral, uma hélice ondulante.
E giro mais. Giram todos.
Andar à roda. Ir, e voltar ao mesmo sítio.
Ler mais uma vez o mesmo livro. Passar o dia sem sair
Do sítio, mas sempre a girar.
Como uma música que gira, gira, gira, gira e gira na minha cabeça.
Como a vida que parece evoluir, mas está sempre a voltar aos mesmo sítios.
Como uma espiral, uma hélice ondulante.
Uma tontura. Quase como andar à roda.
E rio-me. Já não me lembrava como era bom andar à roda.
Sexta-feira, 8 de Junho de 2007
Primeiro:
A situação dos jovens investigadores em Portugal é extremamente precária e pouco atractiva em termos laborais. Isto é prejudicial tanto para quem quer ser cientista em Portugal, como para o próprio país que anda a investir em licenciaturas de qualidade para depois os frutos desse investimento ser recolhidos nos países estrangeiros para onde os jovens cientistas tendem para ir. Num país pequeno e sem recursos naturais como o nosso o investimento em Ciência e Tecnologia devia ser prioritário, mas apesar de toda a propaganda do Governo tal não acontece. Um primeiro passo seria o de criar condições dignas de trabalho para quem faz investigação, isto é, dar-nos um contrato de trabalho igual ao de todos os outros trabalhadores.
Esta é uma luta da ABIC (Associação dos Bolseiros de Investigação Científica) que pode ser apoiada por todos assinando a seguinte petição online: http://www.bolseiros.org/PAEBI.html.
Segundo:
Estamos em período de pré-campanha eleitoral para Lisboa. Esquecendo a discussão de como é possível o executivo camarário ter caído e este cenário de 12 candidatos (parece que temos sete cães a um osso), podemos aproveitar para chamar à atenção de situações que necessitam de alterações urgentes. Este é o caso das dificuldades que as pessoas de cadeira de rodas têm para se deslocar na cidade. E não é só nos bairros históricos e com declives acentuados, é em toda a cidade. Passeios estreitos e repletos de caixas, postes e buracos, quando não é de carros mal estacionados.
Para levar este tema à discussão eleitoral foi criado uma petição online: http://www.petitiononline.com/511abc/petition.html.
Sábado, 19 de Maio de 2007
Carlos Paredes
Canção
Fiz vinte e sete anos em Abril. Em Setembro faz nove anos que vim viver para Lisboa. Um terço da minha vida passado por aqui.
E a pouco e pouco a cidade foi-te tornando menos obscura, menos desconhecida e ainda assim continua intrigante. Porque esta cidade não é uma, são múltiplas que coexistem no mesmo espaço e no mesmo tempo. A cidade dos turistas, que é luminosa e interessante. A Lisboa provinciana, com o homem que distribui pão de bicicleta, com mulheres a sacudir as toalhas cheias de migalhas para a rua, e com senhoras que vão às compras de manhã com a criada. A Lisboa típica, das ruelas e escadinhas de Alfama, dos fadistas castiços de nascença. A Lisboa dos "jovens" ricos, que trabalham em Bancos ou Consultoras, ganham muito dinheiro, vivem bem e estão espalhados um pouco por toda a cidade. A Lisboa noctívaga, do Bairro Alto, Santos, Docas e agora também do Parque das Nações. A Lisboa dos que moram nos subúrbios, e vivem em Lisboa num vai-vem. A Lisboa dos imigrantes, do Martim Moniz, dos Africanos, Indianos, Ucranianos, Chineses. E ainda deve haver tantas outras Lisboasi que eu não conheço.
No princípio, fazia-me uma forte impressão haver aqui tanta gente. Gente com que me cruzava durante o dia, mas tanta, que eu ficava cansada só de passar por eles. Gente sem nome mas que se foi tornando conhecida, pela força de passar nas mesmas ruas à mesma hora tantas vezes. Gente que me entrava pela casa a dentro com as televisões aos berros, com os barulhos nas escadas, até com a sua tosse. Essa falta de sossego, aliada à solidão reinante, deixavam-me extenuada.
Agora, até posso passar um dia a andar de metro, perceber a evolução de um jogo de futebol pelas reacções do vizinho de baixo, já não me afecta.
Devo ter-me tornado indiferente e se calhar, sem querer, já deixei de levantar os olhos do chão quando me cruzo com alguém na rua. Bem me avisaram, antes de eu vir, que isso acontecia muito por cá.
PS: Acerca da música "Canção", original de Carlos Paredes composto para o filme "Os Verdes Anos". Pretende retratar a situação da enorme quantidade de pessoas que, nos anos 50/60, migrou do campo para a cidade.
Quinta-feira, 17 de Maio de 2007
Ai, quem me dera saber cantar. Já há uns tempos que me anda a apetecer cantar-vos um fado. Mas esta minha voz... O fado fica para outro dia. Hoje fica só a letra desta simples canção. Para ir cantando baixinho...
"Maio maduro Maio
Quem te pintou
Quem te quebrou o encanto
Nunca te amou
Raiava o Sol já no Sul
E uma falua vinha
Lá de Istambul
Sempre depois da sesta
Chamando as flores
Era o dia da festa
Maio de amores
Era o dia de cantar
E uma falua andava
Ao longe a varar
Maio com meu amigo
Quem dera já
Sempre depois do trigo
Se cantará
Qu'importa a fúria do mar
Que a voz não te esmoreça
Vamos lutar
Numa rua comprida
El-rei pastor
Vende o soro da vida
Que mata a dor
Venham ver, Maio nasceu
Que a voz não te esmoreça
A turba rompe"
Zeca Afonso