Sábado, 19 de Novembro de 2005
Na quinta-feira demitiu-se José Tavares presidente da Unidade de Coordenação do Plano Tecnológico (UCPT) e ontem demitiram-se sete dos dez elementos que formavam este grupo. Entregaram ao Ministro da Economia o Plano Tecnológico e demitiram-se porque "não vendo presentemente reunidas as condições necessárias para a implementação do referido plano" palavras deles num comunicado que li no Público.
Vai mal o choque tecnológico prometido por este governo. Convém agora ler as
166 medidas do Plano Tecnológico desenvolvido pela UCTP e rete-las na memória de forma a verificar quantas das 166 medidas propostas vão ser de facto postas em prática.
Sábado, 12 de Novembro de 2005
Ontem fui ao teatro.
A peça escolhida foi "Insónia" em cena até dia 20 de Novembro na Casa d'Os Dias da Água na Estefânia. A peça tem como base poemas de Fernando Pessoa e concebida e interpretada por Cristina Bizarro e José Mora Ramos.
Foi muito bom poder (re)descobrir Fernando Pessoa, ouvindo os seus poemas. Para mim a poesia tem de ser ouvida, pois só assim se podem entender todas as nuances, aliterações e entoações que formam a "música" de um poema. E além disso esta peça não é simplesmente uma sessão de declamação, mas sim uma ensenação que usa os poemas como base do texto. Foi muito bom reconhecer lá pelo meio os poemas conhecidos (como o "No tempo em que comemoravam o dia dos meus anos...") mas também foi agradável descobrir outro que nunca tinha lido ou nunca tinha reparado.
Fiquei com vontade até de voltar a pôr aqui no blog poesia de Pessoa. Vou pôr uma pequena, mas têm de a ler alto pelo menos uma vez. Só pelo prazer de ouvir poesia alto.
"Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela."
Poemas Inconjuntos
Alberto Caeiro
Sexta-feira, 11 de Novembro de 2005
São as coisas simples do quotidiano que tornam os meus dias mais felizes. Um sorriso amigo logo pela manhã. Um almoço em boa companhia. O microscópio estar a funcionar (o que inclui câmara, computador e lâmpada). Uma manhã fresca e límpida como a de hoje, com esta luz tão brilhante a iluminar as ruas, as casas, as árvores. O sol de S. Martinho descarado fez-me um convite: "Deixa lá isso, hoje até é sexta-feira, faz uma pausa e vem brincar para a rua." Será que vou resistir?
Quinta-feira, 3 de Novembro de 2005
PARROTS AND LIONS
your will is focused on me
the sounds of your eloquence
are like bubbles
of perfumed soap
swift and merciless
are your fingers on me
copying with precision
the movements of a frantic cartoon
oh! Invincible you
oh! Invincible you
i am like a parrot
without vocabulary
can a parrot
face a lion
Maria João e Mário Laginha, Tralha (2004)
parrots and lions
Terça-feira, 1 de Novembro de 2005

Fiquei sem nada e por isso choro.
A terra tremeu e engoliu-me a alcova. O mar elevou-se e arrastou o meu amado.
Foi castigo do Senhor. É certo. Se não o fora, porque havia de ter tremido a terra à hora da missa no dia dos finados? Nesse dia, em que mais velas ardiam, propagou-se melhor o fogo que trouxe à cidade uma amostra das chamas do Inferno.
Eu escapei aos escombros que cairam, à força das águas e à fúria do fogo.
Fiquei perdida nas ruínas desta que já foi a "capital do mundo" e por isso sofro.
Perdida entre os amontoados de mortos nauseabundos. Perdida entre os choros e gritos dos vivos.
O Senhor escolheu não me castigar com a morte, o meu castigo foi o de continuar esta vida.
Fiquei só e por isso tremo.